quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Síndrome de Burnout - Docentes

Exaustão emocional, baixa realização profissional, sensação de perda de energia, de fracasso profissional e de esgotamento. Estes são os principais sintomas de pessoas que sofrem da síndrome de Burnout. A pessoa é consumida física e emocionalmente pelo próprio objeto de trabalho. Daí o termo burnout - do inglês burn (queima) e out (para fora, até o fim). A doença acomete profissionais de várias áreas, mas seu diagnóstico é mais freqüente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas, como é o caso, por exemplo, dos professores e dos profissionais de saúde.


Uma pesquisa realizada pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite, da Universidade de Brasília (UNB), com mais de oito mil professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 15,7% dos entrevistados apresentam a síndrome de Burnout, que reflete intenso sofrimento causado por estresse laboral crônico. “A enfermidade acomete principalmente profissionais idealistas e com altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho. Na impossibilidade de alcançá-los, acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira”, explicou.



De acordo com Nádia, obter 15,7% num universo de oito mil não é desprezível. Caso o índice seja o mesmo em todo o país, por exemplo, então mais de 300 mil professores brasileiros convivem com a síndrome, isso somente no ensino básico. Entre outras conseqüências, tal cenário levaria a um sério comprometimento na educação de milhões de alunos.



Os dados foram revelados por meio de um questionário aplicado no Sistema de Avaliação da Educação Básica, em 2003, mas somente analisado em 2007. O questionário permite identificar a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome: exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalização. Com relação ao primeiro sintoma, 29,8% dos professores pesquisados apresentaram exaustão emocional em nível considerado crítico. Quanto à baixa realização profissional, a incidência foi de 31,2%, enquanto 14% evidenciaram altos níveis de despersonalização.


Em entrevista ao Jornal do Professor, a psicóloga explica como os professores podem identificar a síndrome e o que devem fazer para tratá-la.

1. O que é a síndrome de Burnout? Como ela se diferencia do estresse?

Burnout é um estado de sofrimento que acomete o trabalhador quando este sente que já não consegue fazer frente aos estressores presentes no seu cotidiano de trabalho. Diferentemente do estresse, que se caracteriza pela luta do organismo no sentido de recobrar o equilíbrio físico e mental, a síndrome de Burnout compreende a desistência dessa luta. Por isso se diz que Burnout é a síndrome da desistência simbólica, pois embora não se ausente fisicamente do seu trabalho, o profissional não consegue se envolver emocionalmente com o que faz.

2. O que leva o professor a desenvolver a síndrome?

Burnout é resultado de longa exposição aos estressores laborais crônicos, sendo mais freqüente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas, como é o caso, por exemplo, dos professores e dos profissionais de saúde. No caso dos profissionais de saúde, as demandas emocionais estão ligadas à compaixão, à onipotência de poder salvar vidas e à impotência por perdê-las. Já no caso do professor, as demandas são de outra natureza; estão relacionadas ao cuidado, à possibilidade ou não de se estabelecer um vínculo afetivo com o aluno que favoreça o processo de aprendizagem e permita ao professor realizar um bom trabalho.


Essas demandas emocionais, no caso do docente, são inerentes a sua profissão, podendo ser agravadas, por exemplo, por políticas educacionais que aumentem a sobrecarga de trabalho sem a devida contrapartida, ou por condições inadequadas de trabalho, ou pela presença de alunos particularmente difíceis (alunos violentos, com grande déficit de aprendizagem) ou ainda pelo sentimento de injustiça, de não reconhecimento do seu esforço e da importância do seu papel na sociedade.


3. Quais são os principais sintomas dessa síndrome?


Os principais sintomas de Burnout são exaustão emocional, despersonalização e sentimento de baixa realização profissional. A exaustão emocional é uma sensação de perda de energia, de esgotamento, quando o profissional comumente relata que, embora querendo, já não consegue mais se envolver emocionalmente com o seu trabalho. Em decorrência dessa exaustão surgem dois mecanismos reativos, a despersonalização, que é o desenvolvimento de atitudes negativas em relação às pessoas destinatárias do trabalho (cliente, usuário) e o sentimento de baixa realização profissional, ou seja, uma sensação de fracasso profissional, de ineficácia.

4. Quais cuidados os professores podem tomar para evitar a síndrome?


Em tese, qualquer movimento no sentido de reduzir a vulnerabilidade do professor aos estressores do seu cotidiano, particularmente aqueles relacionados com as demandas emocionais, seria uma medida preventiva no sentido de minimizar as possibilidades de o indivíduo vir a desenvolver Burnout. Dessa forma, aplicam-se à prevenção de Burnout, todas as estratégias voltadas para ajudar o indivíduo a lidar com o estresse. Por isso, o apoio dos pares e da direção da organização é tão importante. A direção da escola tem papel fundamental no sentido de minimizar problemas estruturais como, por exemplo, condições de trabalho inadequadas. Com relação aos colegas, a troca de vivências e de problemas comuns favorece a reorganização cognitiva no sentido de o trabalhador rever suas expectativas e encontrar formas possíveis de lidar com suas frustrações, e ideais inalcançáveis.


5. Como os professores podem saber se estão com a síndrome ou não? Tem algum exame específico? Eles devem procurar um psicólogo?


O diagnóstico de Burnout pode ser feito por exame clínico, com profissional da área de saúde (médico, psicólogo) que efetivamente conheça os sintomas da síndrome, e por meio de instrumentos psicológicos elaborados especificamente para fazer essa avaliação. É importante que em ambos os casos a avaliação seja feita por profissional com formação adequada em relação ao fenômeno específico. Entretanto, é admissível que o próprio professor, ao tomar conhecimento dos sintomas de Burnout, identifique com razoável precisão que está vivendo esse processo. Nesse caso, é recomendável que ele busque ajuda psicológica.


6. Uma vez constatada a síndrome, o que os professores podem fazer para melhorar?

É altamente desejável que o profissional com Burnout tenha acesso a atendimento especializado, tanto médico quanto psicológico. Além disso, a participação da direção da organização e dos colegas pode ajudar muito, tanto na prevenção quanto na recuperação. Nos profissionais de saúde, medidas interessantes já vêm ocorrendo: profissionais que trabalham, por exemplo, em UTIs, prontos socorros e áreas mais críticas, por iniciativa própria ou por sugestão da instituição onde trabalham, fazem reuniões periódicas (grupos de reflexão) em que discutem suas angústias, suas limitações, buscam alternativas possíveis para os problemas e se preparam psicologicamente para se alegrar com o sucesso (mesmo que em pequena proporção) como forma de fazer frente ao insucesso freqüente. Meu estudo demonstrou que esse suporte social no trabalho é um grande aliado na redução dos níveis de Burnout.

Profª Nádia Maria B. Leite


Autor: Daiane Souza







Sinpro-Rio na Luta pela Saúde do Professor




A campanha "Condições de Trabalho e Saúde do Professor", organizada pelo Sinpro-Rio, teve início em janeiro de 2009, objetivando sensibilizar a sociedade para a trágica realidade dos professores, desnaturalizar a violência nos ambientes escolares e, acima de tudo, convocar os docentes à reflexão e à luta por melhores condições de trabalho e saúde. No site da campanha, que já teve mais de 19 mil acessos, os temas mais procurados têm sido a Síndrome de Burnout, as férias em janeiro, a voz e o assédio moral. O Sinpro-Rio também firmou convênios com psicólogos, que atenderão os professores sindicalizados a preços acessíveis, para avaliação e acompanhamento da saúde mental da categoria.


Fonte: Revista Conteúdo - 2° semestre/2009
http://www.saudedoprofessor.com.br/Imprensa/310809.html

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Professores abandonam carreira devido a agressões de alunos e doenças provocadas pelas más condições de trabalho. No estado, só até maio, 2,8 mil mestres entraram de licença médica


Carol Medeiros e Maria Luisa Barros



Rio - Com a saúde e às vezes até a vida ameaçadas, professores de escolas públicas do Rio estão abandonando as salas de aula. Vítimas de doenças e reféns da violência e da insegurança, muitos vêem seus próprios alunos se transformarem em agressores que intimidam e atacam. Impotentes diante do medo, tentam se esconder e recomeçar. Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação, de janeiro a maio 2.800 docentes entraram de licença por motivos de saúde sem alta prevista. No mesmo período, outros 2.020 docentes simplesmente abandonaram o cargo.

O êxodo de mestres preocupa o Ministério da Educação (MEC), que estuda medidas para cobrir déficit de 710 mil docentes no Brasil. De acordo com relatório do órgão, o País vive ameaça de “Apagão do Ensino Médio”, como O DIA vem mostrando desde domingo.

As doenças psiquiátricas são a principal causa de afastamento dos mestres — mais de 50%, de acordo com o Sindicato Estadual de Profissionais da Educação (Sepe). Recentemente, doença conhecida como Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Desgaste Profissional, tem acometido milhares deles.

“Existe uma despreocupação com a saúde do professor. A doença acomete pessoas que são muito dedicadas ao trabalho e não têm boas condições para exercê-lo. No caso dos mestres, eles se sentem acuados diante dos baixos salários, jornada excessiva, prédios malconservados, falta de equipamentos e violência”, atesta a psicóloga Gisele Levy.

Pesquisadora da Uerj (Gisel Levy), ela verificou que 70% dos mestres de cinco escolas municipais de Niterói sofrem da síndrome, que causa grande exaustão física e emocional.

Em setembro, a síndrome fez mais uma vítima. Apaixonada pela profissão, B., 51 anos, desenvolveu a doença ao longo de seis meses de convívio com alunos de uma escola municipal da Zona Sul do Rio. Submetida à rotina sufocante de ameaças, xingamentos e humilhações, a professora de Português não suportou a pressão e entrou em licença médica. Hoje, vive à base de antidepressivos e não consegue se aproximar de uma escola.

“Quando entrei para o município, achei que tinha chegado ao paraíso, mas descobri que era o inferno. Professor é um lixo para eles”, lamenta. Seu sofrimento começava no domingo à noite. “Era outra pessoa. Vivia tensa, pensando no que ia enfrentar no dia seguinte”, relembra.

Há três meses, M., 30 anos, também deixou a escola. Professora de Geografia de uma escola estadual na Baixada, foi agredida por uma de suas alunas quando esperava o ônibus de volta para casa. Durante a aula, a estudante se revoltou ao receber sua média. Gritou e xingou M., que, acuada, concordou em rever a nota. “Achei que estava resolvido. Fui pegar ônibus e de repente ela apareceu. Agarrou meu cabelo e começou a me dar socos no rosto, abrindo minha testa. Saía muito sangue, fiquei em choque. Outros alunos me socorreram”, conta. No início do mês, M. voltou à sala de aula, depois de conseguir transferência para outra escola.

NÓDULOS NAS CORDAS VOCAIS AFETAM MESTRA

Problemas na voz e articulações são, atrás de males psiquiátricos, as grandes causas de licença médica. Eliana Cunha, 42, é mais uma vítima de doença comum entre os docentes: fendas nas cordas vocais. Sem tratamento, elas se transformaram em nódulos que podem progredir para câncer de laringe. Impossibilitada de dar aula, foi readaptada como coordenadora pedagógica após 13 anos dando 42 tempos de Português por semana.“O salário baixo nos obriga a ir além dos limites. O médico disse que, se não parar, serei aposentada à força”, conta.

AMEAÇA E PROBLEMAS DE SAÚDE

Aos 40 anos, R. tem duas faculdades e cinco anos de magistério. Mas nem toda a sua experiência a preparou para enfrentar a ameaça de um aluno. Professora de Ensino Religioso, teve que fugir da escola onde dava aula, na Baixada Fluminense. Seu crime foi ter chamado a atenção do jovem, que arrastava a cadeira fazendo barulho. “Ele veio para cima de mim gritando e chegou a me ameaçar de morte. Ele já era maior de idade, a gente nunca sabe com quem está lidando. Fiquei transtornada e me senti completamente vulnerável. Tive crise nervosa que provocou queda de cabelos e precisei de tratamento. Acabei descobrindo que vários professores já tinham sofrido com xingamentos e agressões”, conta.


ESTRESSE, PRESSÃO ALTA E PAVOR

Cercada por pichações, B. tentava em vão atrair a atenção dos 50 alunos. “Era o caos. Horrível. Eles se xingavam, casais se agarravam dentro de sala. Imitavam animais e gritavam sem parar uns com os outros. Quando virava para o quadro me atiravam bolas de papel com cola. Um aluno me contou que incendiou até a morte outro menino preso a um pneu. Vivia com pressão alta até que um dia entrei em desespero e quebrei a minha cozinha”, lembra.

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Síndrome de Burnout e seus Efeitos sobre a Saude do Professor

por: Gisele Cristine Tenorio de Machado Levy



Um efeito significativo do processo de mudança nas relações de trabalho pode ser evidenciado por meio da disseminação progressiva da Síndrome de Burnout entre os trabalhadores. O conjunto de sintomas denominado Burnout é considerado um tipo de stress ocupacional por tratar-se de uma Síndrome desencadeada pelas relações geradas no trabalho assistencial (NUNES SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002).

Embora não haja, na literatura, um consenso em relação à gênese do Burnout e do stress ocupacional, Abreu et al (2002) discutem o fato de o stress e o Burnout serem ocasionados a partir de situações relacionadas ao ambiente de trabalho. Hespanhol (2005), ao fazer uma abordagem sobre o Burnout e o stress ocupacional, afirma que o stress ocupacional em extremo pode provocar a Síndrome de Burnout. Alguns autores, porém, divergem dessa opinião. Novaes (2004) explica que existem diferenças entre o stress ocupacional e o Burnout, pois segundo ela, o Burnout se refere, exclusivamente, ao aspecto relacional, ao contato intenso com pessoas, caracterizando exclusivamente as profissões assistenciais.


Abreu et al (2002) concordam com esta opinião, pois, segundo os autores, Síndrome de Burnout não é o mesmo que stress ocupacional. Eles explicam que o Burnout é resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de stress. Desta forma, o stress pode ser visto apenas como um determinante para a Síndrome de Burnout.


Apesar das divergências, todos os autores são unânimes quanto ao fato de a Síndrome ser caracterizada como uma resposta ao stress laboral crônico e estar vinculada a sintomas negativos de ordem prática e emocional, envolvendo sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. (BORRITZ 2006; CARLOTTO & PALAZZO, 2005; GARCIA & BENEVIDES-PEREIRA, 2003; Abreu et al, 2002; REINHOLD, 2002; DWORKIN, 2001).


O conceito de Burnout se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de 70. Anteriormente, outros termos, como "alta exigência", "astenia neurocirculatória" e "fadiga industrial" também foram relacionados ao estado de esgotamento do trabalhador. Embora Christina Maslach e Herbert Freudenberger tenham sido apontados como pioneiros nos estudos sobre a Síndrome, Novaes (2004) citando Benevides-Pereira (2002), aponta que o termo foi adotado primeiramente por Brandley (1969), que teria utilizado o termo “staff Burnout”, referindo-se ao fenômeno psicológico que ocorre com trabalhadores assistenciais. Freudenberger (1974) aplicou o termo Burnout no sentido que é usado hoje (NOVAES, 2004; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).


Atualmente a definição mais aceita da Síndrome de Burnout está baseada na perspectiva sócio-psicológica de Maslach e colaboradores (1986). Os autores descrevem o Burnout como um stress laboral que conduz a um tratamento frio e indiferente com o cliente. Segundo essa leitura, variáveis sócio-ambientais são importantes para o desenvolvimento da Síndrome que é compreendida através de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal (MALAGRIS, 2002; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).


Exaustão emocional – situação em que os trabalhadores sentem que não podem dar mais de si mesmos, em nível afetivo. Percebem esgotada a energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato diário com os problemas. Despersonalização – desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do trabalho (usuário/clientes) – endurecimento afetivo, “coisificação” da relação. Falta de envolvimento pessoal no trabalho – tendência de uma “evolução negativa”, afetando a habilidade para a realização do trabalho e o atendimento, ou contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização. Além da vertente sócio-psicológica, a Síndrome de Burnout pode ser explicada por diferentes concepções: clínica, organizacional e sócio-histórica. Freudenberger (1974) defende uma perspectiva clínica, sob a qual o Burnout representa um estado de exaustão, resultado de um trabalho extenuante, corroborando para que o educador deixe de lado até mesmo suas necessidades. Cherniss (1980) adota um ponto de vista organizacional e explica que os sintomas que compõem a Síndrome são respostas a uma demanda de trabalho estressante, frustrante e monótono. E por fim, Sarason (1983) aponta uma perspectiva sócio-histórica, e explica que, quando as condições sociais não canalizam o interesse de uma pessoa para ajudar a outra, é difícil manter o comprometimento no trabalho e servir aos demais (FARENHOF & FARENHOF, 2002).


Levando em consideração a evolução do de Burnout no trabalho docente sob a perspectiva psicossocial, Codo (1999) explica que as atividades assistenciais detêm uma particularidade estrutural, que é a necessidade do investimento de energia afetiva, para que se alcance os seus objetivos,ou seja, a promoção do bem-estar do outro. No caso da profissão docente, que se caracteriza pelo contato intenso com o alunado, o mesmo acontece. Assim, é necessário que o professor estabeleça um vínculo afetivo com o seu trabalho para que possa efetivar suas atividades. Caso contrário, a deterioração da relação de afeto devido ao desgaste diário na relação com o aluno, conduz o professor a um sentimento de exaustão emocional, caracterizado pelo total esgotamento da energia física e mental. Este estado contínuo de exaustão irá conduzir o profissional a um sentimento de baixa realização pessoal no trabalho, caracterizado pela ausência do vínculo de afeto, imprescindível a esse tipo de atividade. Na etapa da despersonalização, este vínculo é substituído por outro, racional, no qual o professor desenvolve atitudes negativas e críticas em relação ao aluno.


O trabalho passa, então, a ser considerado, apenas, pelo seu valor de troca, de “coisificação”. O aluno e todo o universo que compõe sua atividade profissional passam a ter um tratamento de objeto, descaracterizando totalmente a profissão. É esta perda do sentido do trabalho que se constitui num dos principais fatores responsáveis pelos inúmeros casos de absenteísmo e afastamento do professor. Como aponta MALAGRIS (2004, p.203) “... como o Burnout costuma surgir em áreas onde as pessoas têm mais aspirações, a frustração e a decepção são muito grandes, ocorrendo a perda do sentido no trabalho.”


Considerando a evolução da Síndrome de Burnout, conseqüência de um stress crônico e prolongado, a sensação de perda da energia e falta de disposição em relação ao trabalho, ocorrem de forma gradual, lenta e frequentemente imperceptível. Afetando de maneira significativa a relação entre o indivíduo e suas tarefas. Gimarães e Cardoso (1999) (apud Cornnell,1982) propõe um esquema de sintomas presentes na Síndrome de Burnout, que podem ser apresentados pelo indivíduo.

Sintomas físicos: são similares aos do stress ocupacional, são eles:


1. A fadiga, a sensação exaustão (cansaço crônico),


2. Indiferença ou frieza,


3. Sensação de baixo rendimento profissional,


4. Freqüentes dores de cabeça,


5. Distúrbios gastrintestinais,


6. Alterações do sono (insônia) e


7. Dificuldades respiratórias.


Os Sintomas de conduta: se revelam sob a forma de graves alterações no comportamento que usualmente afetam aos colegas, pacientes, familiares de pacientes e inclusive seus próprios familiares.


Os Sintomas psicológicos: podem aparecer mudanças de comportamento, tais como: trabalhar de forma mais intensa, sentimento de impotência frente a situações da rotina de trabalho, irritabilidade, falta de atenção, aumento do absenteísmo, sentimento de responsabilidade exagerado, atitude negativa, rigidez, baixo nível de entusiasmo, o consumo de álcool e drogas, como uma forma de minimizar os efeitos do cansaço e do esgotamento. Frente a estas questões, muitos pesquisadores vêm estudando o fenômeno do Burnout na Educação. Nunes Sobrinho et al (1988) desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de investigar a incidência da Síndrome de Burnout em 119 professores do ensino especial, de Rede Pública Municipal.Para a coleta de dados foi utilizado o (MBI) Inventário Maslach de Burnout. Um dos resultados da pesquisa indicou que os professores que apresentaram maior índice de Burnout eram os que atendiam deficientes auditivos e não haviam recebido qualquer treinamento para lidar com estes portadores de necessidades educativas especiais. De acordo com os resultados, os pesquisadores sugerem que a instalação do processo de stress ocupacional se deva, principalmente, à impossibilidade de o profissional solucionar as questões referentes ao seu posto de trabalho.Assim, a impossibilidade de solucionar situações no cotidiano escolar leva o professor a sofrer de Burnout.


Na pesquisa de Ogeda, et al (2002), Burnout em Professores: a Síndrome do Século XXI Foi realizada uma análise sobre a perspectiva organizacional da Síndrome de Burnout junto aos professores da Rede Municipal de Campo Largo/ Paraná. Participaram da pesquisa 353 professores, que responderam ao (MBI) Maslach Burnout Inventory (Maslach & Jackson, 1986) para avaliar o índice de Burnout. Os pesquisadores constataram que a maioria dos participantes possuía indícios que se aproximavam dos aspetos da Síndrome de Burnout, apresentando sintomas de exaustão emocional e física.


Outra investigação, intitulada Síndrome de Burnout e Fatores Associados: um estudo epidemiológico com professores (Carlotto & Palazzo, 2006), teve como objetivo identificar o índice da Síndrome de Burnout em professores com a análise das variáveis demográficas, laborais e os fatores contribuintes para o stress. A população foi composta por 217 professores de escolas particulares de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul/ Brasil. Para tanto, foram utilizados o Maslach Burnout Inventory (MBI), para medir o índice de Burnout e um inventário sócio-demográfico. Os resultados obtidos revelaram que o mau comportamento dos alunos, as expectativas dos seus familiares e a pouca participação do professor nas decisões institucionais foram os fatores de stress que apresentaram associação direta com as dimensões de Burnout. Quanto às dimensões “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e diminuição da “Realização pessoal”, que compõem o Burnout, foram revelados baixos índices.

O número das pesquisas empreendidas sobre a extensão dos efeitos da Síndrome de Burnout, na saúde dos professores, é muito significativo. O mesmo se repete nas investigações voltadas a outras áreas, como a medicina, psicologia, psiquiatria, ergonomia organizacional (SILVEIRA, et al, 2005; Oliveira. & Slavutzky,2005; SPIES, 2004; PEREIRA & JIMENEZ; 2003, VOLPATO, 2003). Silveira et al (2005) investigaram a incidência da Síndrome de Burnout em 60 policiais civis que trabalham no município de Porto Alegre/RS. Para a coleta de dados foram criados dois grupos: um grupo de 35 policiais envolvidos em atividades externas e outro com 25 policiais envolvidos em atividades internas. O instrumento utilizado para a análise do índice de Burnout, foi o (MBI) Maslach Burnout Inventory. Ao final, a investigação revelou que não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de policiais no que se refere a cada um dos três fatores constituintes da Síndrome “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e “Realização pessoal”. A partir deste resultado, os autores sugerem que os sintomas vinculados à Síndrome não são determinados pelo tipo de atividade desempenhada, e alertam para a necessidade de estudos mais amplos que possam aprimorar as investigações sobre o Burnout e sua relação com o trabalho policial.

Oliveira & Slavutzky (2005), em A Síndrome de Burnout nos Cirurgiões-Dentistas de Porto Alegre, investigou-se o nível de Burnout, em uma amostra de 169 cirurgiões-dentistas de Porto Alegre/RS. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário auto-aplicativo, (MBI) Maslach Burnout Inventory. “Ao final da pesquisa foi constatado que os participantes apresentaram baixos índices nas dimensões: “Esgotamento emocional”, “Despersonalização” e “ Realização pessoal”, não sendo detectadas taxas altas de Burnout.


A pesquisa Burnout in occupational therapy: an analysis focused on the level of individual and organizacional consequences (GUTIÉRREZ et al, 2004) teve como objetivo a análise dos diferentes tipos de desgaste profissional, tomando como referência os fatores organizacionais e a Síndrome de Burnout. A amostra foi composta de 110 terapeutas ocupacionais da região autônoma de Madrid que atuavam em instituições que ofereciam serviço de terapia ocupacional. Destes, 89% pertenciam ao gênero feminino e 10%, ao gênero masculino. Os instrumentos para a coleta de dados foram: revisão bibliográfica, entrevistas e um inventário que analisa o índice de Burnout em profissionais de enfermagem (CDPE) Cuestionario de Desgaste Profesional de Enfermería (MORENO-JIMÉNEZ, et al, 2000). Os resultados da pesquisa revelaram associações altamente significativas entre a Síndrome de Burnout e conseqüências adversas relacionadas à saúde e ao campo interpessoal dos participantes. Além disto, indicou a relevância dos fatores relacionados com a sobrecarga do trabalho, as características da tarefa, a falta de amparo e com o reconhecimento por parte dos colegas.

Através da revisão bibliográfica, ficam evidentes os efeitos danosos da Síndrome de Burnout sobre a saúde do professor, colaborando para seu adoecimento e o impossibilitando de realizar plenamente suas tarefas. Neste contexto, é necessária uma reflexão sobre alguns dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da Síndrome.




Referências:


ABREU, et al. Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia, Brasília: UNISINOS. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Neurociências, 2002.



CODO, Wanderley (Coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.


CARLOTTO, M. Síndrome de Burnout e Gênero e o Docentes de Instituições Particulares de Ensino. Revista de Psicologia da UnC, n.1, vol. 1, p. 15-23. 2003.


CARLOTTO, S. M.; CAMARA, G. S. Análise Fatorial do Maslach Burnout Inventory (MBI) em uma amostra de professores de instituições particulares. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 3, p. 499-505, set./dez. 2004.


CARLOTTO M. S.; PALAZZO L. S. Síndrome de burnout e fatores associados: um estudo epidemiológico com professores Universidade Luterana do Brasil, Canoas, Brasil, 2006.


ESTEVE, J. Manuel, O Mal-Estar Docente; A sala de aula e a saúde dos professores. Bauru, SP:
EDUSC, 1999.


GOMES L. Trabalho Multifacetado de Professores/As: A Saúde Entre Limites. Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 2002, Dissertação apresentada para a obtenção do título de mestre em ciências na área de saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz-Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP, 2002.


HESPANHOL, A. Burnout e Stress Ocupacional. Revista Portuguesa de Psicossomática. V.7, n. 1 e 2, jan./dez. 2005.


LEVY, Gisele Cristine T. M. Analise do índice de Burnout em professores da rede pública de ensino. Dissertação Mestrado em Educação – UERJ /PROPED. Rio de Janeiro, 2006.


LEVY, Gisele Cristine T. M. O papel do professor na educação inclusiva. In: FACION, J. Raimundo (org.), Inclusão Escolar e suas implicações. Curitiba, ED. IBPEX, 2008.


LIMA, Flávia Fatores contribuintes para o afastamento dos professores dos seus postos de trabalho, atuantes em escolas públicas municipais localizadas na região sudeste. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, 2004.


LIPP, M. (Org.) O Stress do Professor. Campinas, São Paulo, Ed. Papirus, 2002.


NUNES SOBRINHO, Francisco de Paula; NASSARALLA, Iara (Orgs.). Pedagogia Institucional: fatores humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Zit Editores, 2004.


NUNES SOBRINHO et al. Humanização do posto de trabalho docente: uma alternativa ergonômica na inclusão educacional. In: NUNES SOBRINHO, Francisco de paula (ORG.) . Inclusão Educacional: pesquisa e interfaces. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2003.


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PEREIRA, Benevides. O Estado da Arte do Burnout no Brasil. Universidade Estadual de Maringá – PR, Departamento de Psicologia, 2002


PEREIRA, L. P.; FERREIRA, L. P. ANAIS II Congresso Brasileiro de Stress teoria e Pesquisa São Paulo/ SP 2005.


REINHOLD H. in: LIPP Marilda et al. O stress do professor. Campinas: Papirus, 2002.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

STRESS ANCESTRAL -Materia retirada do site: ISTOÉ Independente

Pesquisadores mostram que o satress não é um mal exclusivo dos tempos modernos e que já estava presente entre os incas no século VI

André Julião

PRIMÓRDIOS



Machu Picchu: para nós, beleza; para os incas, construções estressantes

Conhecido como um dos males do nosso tempo, o stress não é exclusividade deste século nem do anterior. Muito antes da era do trânsito caótico, e até mesmo da Revolução Industrial, a civilização inca, que viveu entre 550 e 1532, já sofria desse mal. A conclusão é de uma equipe de arqueólogos da Universidade de Ontário Ocidental, no Canadá, que analisaram amostras de cabelo de restos mortais de dez indivíduos, provenientes de cinco diferentes sítios arqueológicos no Peru. Os pesquisadores encontraram cortisol – hormônio responsável pelo stress – em níveis superiores aos verificados em pessoas que passaram por estudos clínicos recentes. “O cortisol estava mais alto naqueles que, depois de alcançar tais níveis, morreram. Esses indivíduos podem ter desenvolvido uma doença que levou algum tempo para matá-los e essa talvez tenha sido a causa do stress”, diz a arqueóloga Emily Webb, que conduziu a pesquisa.

Quando alguém se estressa, o cortisol é liberado para quase todas as partes do corpo, o que inclui sangue, saliva, urina e cabelo. Por isso, os cientistas canadenses aliaram métodos tradicionais da arqueologia, como pesquisa de campo e escavação, com novas técnicas de estudo bioquímico. “Agora podemos ter um bom retrato de como era a vida de nossos ancestrais e como eles respondiam a intempéries como as doenças”, diz Emily. Mais importante, porém, segundo a arqueóloga, é entender melhor o stress e como ele nos afeta: “Tanto nas sociedades ancestrais como nas contemporâneas, tem papel significante na saúde e na qualidade de vida”, diz ela. “Apesar de o stress que as pessoas experimentavam no passado ser diferente do que temos hoje, o estudo nos ajudará a entender melhor o seu impacto tanto no lado psicológico como em termos de bem-estar.”

A civilização inca ha­bitou territórios da América do Sul que hoje compõem o Chile e fazem parte do Peru, Equador, Bolívia e Argentina. É dela a autoria de uma das construções mais enigmáticas da história humana: a cidade de Machu Picchu, conjunto de edificações localizado no Peru, que recebe milhares de turistas to­dos os anos.

Além de possuir avançados conhecimentos de astronomia, os incas dominavam técnicas de construção baseadas no encaixe milimétrico de pedras de diferentes formatos, o que torna impossível a passagem de qualquer objeto por entre elas. A forma como eles cortavam as pedras permanece um mistério. Esse conhecimento foi suprimido sumariamente quando os espanhóis chegaram à região, em 1532. Eles aproveitaram o episódio de uma guerra entre clãs para exterminar a população e dominar o território. Machu Picchu, porém, foi preservada.

Antes de morrer golpeado por um soldado espanhol, um inca certamente teve seus níveis de cortisol rapidamente aumentados. A análise nos fios de cabelos verificou que muitos indivíduos tiveram eventos de stress pouco antes da morte. A maioria, porém, apresenta múltiplas ocorrências semelhantes ao longo dos últimos anos de vida.

“É possível que o stress tenha aumentado nesses indivíduos quando eles estavam à beira da morte. Por outro lado, o fim da vida pode acontecer de repente, sem tempo de haver mudanças nos níveis de cortisol que cheguem até o cabelo”, diz Emily. Sua equipe agora está comparando os dados de cortisol com outras análises bioquímicas das amostras. Com esse novo passo da pesquisa, os arqueólogos pretendem avaliar melhor o que estava acontecendo na vida de cada indivíduo à época de sua morte, o tipo de stress vivido e a relação desse estado mental com a saúde e o comportamento.

Além das doenças, tudo que um indivíduo percebe como sendo stress – seja psicológico, seja social – tem efeito sobre seus níveis de cortisol. Portanto, períodos de seca, problemas nutricionais e ferimentos podem ser outros fatores que tiravam a paz do povo inca. A partir de agora, será preciso pensar bem antes de dizer que não pode haver nada mais estressante no mundo do que um engarrafamento numa sexta-feira à tarde.

Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/35451_STRESS+ANCESTRAL?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

O stress é um "mau", mesmo?

O stress é um mecanismo normal, necessário e benéfico ao organismo...

O termo stress é definido como “uma reação psicofisiológica complexa que tem sua originem na necessidade do organismo em reagir a algo que ameace sua homeostase interna.” Este processo pode ter início quando a pessoa se depara com uma situação que a mobilize, irritando ou amedrontando.



Eustress ou também chamado de stress bom, motiva e estimula a pessoa a lidar com a vida. ajuda o indivíduo a “sentir-se vivo”. Já o Distress ou comumente denominado de stress mau ou ruim, em termos fisiológicos apresenta as mesams respostas, tais como: aceleração cardíaca, aumento do metabolismo, pupila dilatada, rapidez mental, entre outros. Ele passa a ser encarado como prejudicial a saúde na medida que se torna um stress crônico.