segunda-feira, 13 de junho de 2011

A obesidade é um problema para as empresas?




Autor: Alberto José Niituma Ogata*


A questão da obesidade está na ordem do dia em nosso país, desde a revelação, pelo IBGE de que mais de 40% da população está com excesso de peso (obesos ou com sobrepeso). Até o Presidente Lula resolveu participar do debate ao afirmar que a pesquisa está errada pois " fome não se mede em pesquisa e que as pessoas têm vergonha de admitir que passam fome". Na verdade, esta é uma tendência que o próprio IBGE vem constatando há quase três décadas no Brasil.


Assim, ao invés de assumirmos a atitude de "avestruz", deveríamos procurar soluções e políticas para enfrentar o problema.


Por exemplo, nos Estados Unidos, onde a obesidade assume proporções epidêmicas, o programa governamental "Healthy People 2010" estabelece como metas a redução de 23% para 15% a proporção de obesos com idade superior a 20 anos e a elevação de 15% para 30% o número de adultos envolvidos em atividade física (pelo menos 30 minutos por dia, cinco ou mais dias por semana). Para se atingir estes objetivos, há o envolvimento de toda a sociedade, incluindo-se as empresas, os meios de comunicação, as ONGs e os profissionais de saúde.


O Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade do Ministério da Saúde, realizado entre 2002 e 2003 mostrou que nas idades mais avançadas o problema da obesidade e do sobrepeso é ainda mais grave. Este estudo mostrou que em São Paulo, o índice de pessoas com peso acima do normal chega a 61%.


Além disso, devemos nos lembrar de que a maioria da nossa população (65 a 70%) é sedentária. De acordo com dados do IBOPE e publicados na Folha de São Paulo, o brasileiro passa, em média 4 horas e 53 minutos por dia assistindo televisão !


A epidemia da obesidade leva ao aumento do índice de complicações e doenças associadas. Recente pesquisa realizada pelo Centro de Vigilância epidemiológica da Secretaria da Saúde de São Paulo, mostrou que temos 7% de diabéticos e 24% de hipertensos em nosso Estado, justificando a presença das doenças cardiovasculares no primeiro lugar no ranking de mortalidade entre adultos.






Em editorial na revista científica "São Paulo Medical Journal", o Professor Paulo Lotufo da Universidade de São Paulo sugere que a epidemia da obesidade no Brasil permite prever que haverá um pico de doenças coronarianas, apesar das medidas de restrição ao tabagismo e ao tratamento da hipertensão arterial.






E o que as empresas têm a ver com este problema ? De acordo com extensas pesquisas, o sobrepeso e a obesidade estão fortemente associados a aumento nos custos de assistência médica (despesas até 44% maiores) e aumento no índice de faltas ao trabalho (absentismo). Um estudo mostrou aumento de 74% nas faltas acima de 7 dias e 61% nas faltas de 3 a 6 dias, quando comparados os trabalhadores de peso normal e os obesos. A explicação lógica para este fato é a associação entre a obesidade e doenças cardiovasculares, o diabete e certos tipos de cânceres. Mas, provavelmente, a obesidade, por si própria, pode ser um fator associado a perda de produtividade no trabalho.


O ambiente de trabalho tem se demonstrado como um espaço privilegiado para a abordagem da questão da obesidade. Possibilita-se a realização de programas mais abrangentes, com maior participação,melhor disseminação das informações, acompanhamento dos fatores de risco e apoio para as mudanças comportamentais. Para o empregado, estes programas constituem-se em oportunidade única. Podem participar no próprio ambiente de trabalho, freqüentemente com apoio financeiro da empresa, tem a possibilidade de reduzir fatores de risco e melhorar sua qualidade de vida.


No entanto, para que se atinjam os melhores resultados, os programas devem ser bem elaborados, utilizando forte base científica e apoio técnico. Os estudos têm demonstrado que os programas de controle do peso realizados no ambiente de trabalho representam custo muito menor do que os realizados em clínicas ou hospitais especializados.


Inicialmente, deve-se avaliar o número de empregados com obesidade e sobrepeso, bem como a presença de outros fatores de risco (colesterol elevado, sedentarismo, tabagismo). Os participantes devem ser separados pelo grau de obesidade para se determinar a abordagem a ser adotada. Os programas devem envolver medidas de informação, sensibilização para mudança de comportamento, orientação nutricional, estímulo para a prática de atividade física e acompanhamento. As pessoas com obesidade mórbida devem ser encaminhadas para avaliação médica especializada.


Lembramos que devemos estabelecer metas realistas, procurar parcerias com recursos disponíveis na comunidade, como a Associação Brasileira de Obesidade - ABESO (www.abeso.org.br), o CELAFISCS (www.celafiscs.com.br) e o FUNCÓR (http://prevencao.cardiol.br/sbc-funcor).


A abordagem da obesidade no ambiente de trabalho possibilitará ter empregados mais produtivos, com maior satisfação e qualidade de vida e reduzir os custos com assistência médica. Deste modo, acreditamos que a empresa tem importante papel para contribuir na melhoria da saúde e da qualidade de vida de nossa população, iniciando a sua participação com os seus colaboradores.





*ALBERTO OGATA é médico com mestrado em Economia da Saúde pela USP, Diretor da Subsecretaria de Assistência Médico Social Tribunal Regional Federal da 3ª Região e Vice Presidente da ABQV.

Fonte original: www.abqv.com.br


http://www.abqv.org.br/novo/?q=content/empresas-criam-a%C3%A7%C3%B5es-para-reduzir-n%C3%BAmero-de-executivos-obesos-0