sexta-feira, 31 de julho de 2009

BURNOUT: A lógica neoliberal e a saúde docente

Por: Gisele Levy

Os fatores que contribuem para o desenvolvimento do Burnout entre os professores compreendem desde as suas características individuais, a forma pela qual este profissional se envolve em seu ambiente de trabalho, os baixos salários, a ausência de recursos materiais, a sobrecarga e a falta de reconhecimento profissional.

O surgimento desses fatores se deve, dentre outros aspectos, às modificações sofridas pelas relações estabelecidas entre o trabalho e o homem. O trabalho, considerado uma atividade criadora e de transformação, é capaz de modificar o mundo e o homem que o executa. Nessa interação, o homem age sobre a natureza na expectativa de adaptá-la às suas necessidades, tornando o trabalho um elemento essencial a sua vida. No entanto, tal intercâmbio vem causando danos irremediáveis a saúde do trabalhador, sob a forma de tensão e conseqüente desenvolvimento de doenças.

A influência da lógica neoliberal nas relações de trabalho e seus desdobramentos são fatores decisivos para o crescente processo de adoecimento do professor. Ao perpetuar e reativar novos padrões de produção, o aparelho neoliberal, impôs à educação, um caráter mercadológico, caracterizado pela instauração de políticas educacionais que objetivam, primordialmente, a geração de trabalho, deixando de lado seu caráter sócio - político.

Portanto, a subordinação da educação aos interesses do capital, descaracterizou-a, trazendo sérios prejuízos ao profissional de educação. O trabalho docente tornou-se fragmentado, acabando por adquirir inesperados contornos, onde diferentes formas de exploração foram introduzidas afetando sua consciência de classe, organização, valores e saúde física e mental.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trabalho x Estress x Aumento de peso !!!!!!!!

A relação do estresse com a obesidade
Você trabalha muito, dorme pouco, come mal e ainda não faz exercícios físicos. A combinação é terrível para a sua saúde física e mental. Muitos profissionais sabem disso, mas pouco fazem para mudar a situação. O fato é que, dentre as muitas doenças que se pode desenvolver, em meio a essa rotina de estresse, está a obesidade.

De acordo com a diretora do Citen (Centro Integrado de Terapia Nutricional), Ellen Simone Paiva, as características da vida moderna podem estar relacionadas a um balanço energético positivo, levando ao ganho de peso. "Dentre elas, podemos citar a alimentação inadequada, o sedentarismo e o estresse", afirmou.

Não é à toa que, dentre as queixas mais comuns entre as pessoas que procuram tratamento para a obesidade, está o estresse, apontado por 80% daquelas que ganharam peso.

Estresse e obesidade
O corpo responde ao estresse por meio de adaptações físicas ou comportamentais. Na realidade, o problema aumenta o estado de alerta diante de novas situações, a tolerância à dor e a produção e liberação de substratos energéticos dos estoques corporais, principalmente sobre a forma de glicose e gordura... É então que o estresse pode gerar a obesidade.

"Esses substratos em excesso são conhecidos por causar alterações metabólicas ligadas à obesidade e ao diabetes", disse a médica.

Existe ainda um fator comportamental que faz com que o estresse gere aumento de peso. "Os relatos são unânimes: as pessoas comem muito mais quando expostas a fatores de estresse, podendo ocorrer queixas de fome excessiva, comportamento "beliscador" e até uma necessidade patológica de consumir grandes volumes de alimentos, a chamada compulsão alimentar", relatou.

Os hormônios e o sono
Em quadros de estresse, notou-se também o aumento de alguns hormônios relacionados à obesidade, como o corticóide, que têm a capacidade de aumentar o peso dos pacientes, quando usado sob a forma de medicamento e até quando produzido em excesso pelo organismo.
"Nossas dúvidas não estão sanadas a esse respeito, uma vez que muitos indivíduos estressados e com elevação da cortisona não engordam e, por outro lado, muitos obesos estressados não expressam aumento do seu corticóide endógeno. Por isso, muito provavelmente, a diferença entre estes pacientes é o volume de alimentos ingeridos", afirmou Ellen.
Além disso, a falta de sono provocada pelo estresse também pode causar a obesidade, o que é explicado por vários fatores. "O primeiro deles trata-se de um estado de estresse crônico. Além disso, várias alterações hormonais induzidas pela privação de sono podem influenciar o ganho de peso, como é o caso da grelina e leptina, hormônios relacionados ao controle da fome e da saciedade", disse a diretora do Citen.

O que pesa mais
Entre aspectos biológicos e comportamentais, Ellen disse que o segundo tem mais importância no ganho de peso em quadros de estresse. "O maior fator associado ao ganho de peso é comportamental. O que engorda é o balanço energético desfavorável: a associação da ingestão excessiva de calorias somada ao sedentarismo", concluiu.

Fonte: http://dinheiro.br.msn.com/financaspessoais/noticia.aspx?cp-documentid=20819800

terça-feira, 21 de julho de 2009

Gentileza: a dama do terceiro milênio

Por: Marizete Furbino

Na era do terceiro milênio, relacionar-se de maneira autêntica, educada, sincera, cordial, respeitosa, amável, simpática, paciente, delicada, solidária e gentil, tendo como pilar a empatia, a polidez e o apreço por todos que nos rodeiam, é o grande trunfo. Ressalto que, no mundo dos negócios, é preciso reconhecer que esta dama do terceiro milênio, denominada gentileza, além de ter vez e voz onde quer que esteja, conduz o profissional ao destaque, permitindo que o mesmo faça a diferença.

Desse modo, o profissional do Século XXI deve ser gentil com todos dentro da organização em que atua, indiferente de quem seja e da posição que ocupa; portanto, desde o porteiro até a diretoria, todos devem e merecem ser tratados com gentileza. No mesmo sentido, uma empresa gentil além de enobrecer-se, atrai, conquista, fideliza, retém e mantém todos os stakeholders, porque contagia todos os envolvidos, conduzindo-os a somar habilidades, esforços, conhecimentos e talentos em prol de uma mesma sintonia, alcançando assim, resultados além do esperado.

Assim, a gentileza, além de propiciar um ambiente de trabalho agradável e harmonioso, contribui também no sentido do profissional despertar, criar valores, pensar e repensar sua práxis, cumprindo o exercício de sua função de forma prazerosa, se doando e se entregando de corpo e alma. E, com isso, fazendo parcerias, criando, fidelizando, compartilhando e mantendo "laços"; firmando vínculos advindos da integração, do comprometimento e do envolvimento, o que contribui e muito para além da eficiência, alcançar a eficácia, obter como resultado o sucesso, em tudo que se propõe a fazer.

Igualmente é de notório conhecimento que pequenos gestos de gentileza fazem toda a diferença, uma vez que esses possuem o poder de transformar o ser humano, a empresa e o mundo, pois trazem consigo uma verdadeira magia, capaz de encantar as pessoas ao seu redor e de mudar todo um contexto. Assim, além de atenuar momentos difíceis carregados de tensão, é capaz de converter qualquer comportamento hostil em cordial, desumanização em humanização, fazendo bem não apenas à alma das pessoas, mas à empresa como um todo.
Desta maneira, além de gerar bem-estar, possui o poder de render bons "frutos" a todos os envolvidos. Portanto, é de suma importância cultuar e colocar em nossa práxis esta grande virtude denominada gentileza.

Trabalhar em prol do desenvolvimento desta virtude se tornou fator sine qua non para obtermos um ambiente com uma atmosfera agradável, alegre e harmoniosa em nossa empresa. É importante salientar que quando agimos com gentileza, além de darmos o real valor e consideração às pessoas ao nosso redor, estamos mais dispostos a ajudar o próximo e a somar esforços, conhecimentos e talentos; por isso, ela atrai, encanta e contagia as pessoas.

É sabido que a gentileza induz os profissionais a deixarem de lado a corrupção, o egoísmo e o individualismo. Em meio a tanta competitividade impera a busca desenfreada a todo custo pelo sucesso, o que causa estragos e danos muitas vezes irreparáveis. Logo, a gentileza provoca e conduz o profissional ao companheirismo, à ética, ao bom convívio e à integração, permitindo então que departamentos e profissionais executem suas funções de maneira mais entrosada, integrada, harmoniosa e inter-relacionada, consentindo desta forma, que dentro da organização ocorra, além do respeito mútuo, sinergia, fator essencial para o alcance dos resultados no Século XXI.

Sabedor de que um dos seus grandes benefícios é a sua contribuição para com a saúde, tanto do profissional, quanto da companhia, no que se refere ao bem-estar advindo deste hábito, torna-se essencial que realizemos a monitoração de nossos comportamentos e atitudes diante dos fatos e das pessoas, para que não apenas façamos da gentileza um hábito constante, mas também aprendamos a recebê-la.

Fica evidente que em meio a tanta correria do dia-a-dia, o profissional do terceiro milênio não poderá jamais abrir mão desta dama denominada gentileza, pois, deverá ter sabedoria suficiente para enxergar que ser gentil faz todo um diferencial no mercado, constituindo assim vantagem competitiva.

Em adição ao já exposto, é importante salientar que, se o profissional do Século XXI ainda não possui ou deixou adormecer esta valiosa virtude, o mesmo deverá repensar de forma urgente e emergente sua maneira de ser, suas atitudes e comportamentos. Deve procurar resgatar, iniciar e cultivar este hábito; assim, começar a agir tendo como base a gentileza se torna compulsada aos que desejam pelo menos sobreviver neste cruel e competitivo mercado. Vale também dizer que não se pode mais perder a oportunidade de ser gentil em nosso dia-a-dia, uma vez que só se tende a ganhar.
Marizete Furbino, formação em Pedagogia e Administração pela UNILESTE-MG, especialização em Empreendedorismo, Marketing e Finanças pela UNILESTE-MG. É Administradora, Consultora e Professora Universitária na UNIPAC-Vale do Aço. + textos de Marizete Furbino

terça-feira, 14 de julho de 2009

FENPROF - Os professores são dos profissionais com maiores índices de stress

Os professores são dos profissionais com maiores índices de stress e de exposição ao risco, muito devido à indisciplina dos alunos, que tem aumentado bastante nos últimos anos, disse João Amado, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e autor de várias obras sobre indisciplina. "A indisciplina agravou-se progressivamente. Passou-se de uma infracção simples das regras para um comportamento mais violento e conflituoso", explicou. Francisco Meireles, professor de Educação Visual e Tecnológica, não tem dúvidas disso. Depois de 14 anos afastado do ensino a trabalhar nos serviços centrais do Ministério da Educação, o docente regressou à escola no passado ano lectivo e garante que "a surpresa não está a ser nada, nada agradável". "A degradação instalou-se a passos largos. Os insultos generalizaram-se, há agressões e conflitos quase todas as semanas", contou o professor, de 53 anos, que lecciona na escola básica do 2º e 3º ciclos António da Costa, em Almada. João Amado, investigador do fenómeno da indisciplina desde o início da década de 1980, garante estar disseminada a desmotivação entre os professores, afectados por uma "grande indefinição na comunidade educativa e pela generalização da própria ideia de crise". O autor de obras como "Indisciplina e Violência na Escola - Compreender para Prevenir" aponta ainda como motivo do aumento do fenómeno "o facilitismo por parte de muitos pais, que se demitiram totalmente da sua função educativa". "As famílias desresponsabilizaram-se muito e o facto de não existirem regras em casa é altamente perturbador e potenciador de um comportamento de incivilidade por parte de muitas crianças e jovens", explicou (...).
Governo não tem dados concretos sobre a indisciplina O Ministério da Educação não dispõe de dados concretos sobre indisciplina, mas apenas sobre violência no espaço escolar, devendo o relatório referente ao passado ano lectivo ser apresentado no final deste mês. João Sebastião, presidente do Observatório da Segurança Escolar, explicou que não é possível contabilizar os incidentes de indisciplina, não apenas porque o conceito é abrangente e difícil de definir, mas também devido à própria dimensão do problema. "Há um milhão e 600 mil alunos nas escolas portuguesas. Se um por cento dos alunos fossem indisciplinados, seriam cerca de 16 mil ocorrências por dia. É uma dimensão gigantesca e incontável", explicou o responsável. Certo é que há uma percepção generalizada na opinião pública sobre o aumento da indisciplina e da violência na escola, fenómenos que, muitas vezes, andam de braços dados. O próprio Procurador-Geral da República considerou recentemente, em entrevista ao semanário "Sol", que "a situação de impunidade tem de acabar". Pinto Monteiro vai mesmo emitir uma directiva ao Ministério Público para fazer uma recolha de dados sobre a situação, "começando pela participação de todos os ilícitos que ocorram nas escolas". Desde o início do ano lectivo, em apenas dois meses, a linha telefónica SOS Professor recebeu 37 participações de docentes, das quais nove de agressão física por parte de alunos e encarregados de educação e as restantes relativas a situações de indisciplina grave. "O fenómeno da indisciplina tem tendido, efectivamente, a aumentar.
O quadro de valores na relação com o professor, enquanto pessoa mais velha e figura de autoridade, tem vindo a degradar-se progressivamente", disse à Lusa João Grancho, presidente da Associação Nacional dos Professores (ANP), que lançou e gere aquela linha telefónica de apoio. Para este responsável, o afastamento dos pais relativamente ao acompanhamento escolar dos filhos, a quebra na imagem pública da escola e o agravamento das desigualdades e tensões sociais nos últimos anos são as principais razões na origem do problema. Para já, o Governo apostou numa alteração do Estatuto do Aluno, em vigor desde 2002, reforçando a autoridade dos docentes para combater o problema da violência e indisciplina na escola, cuja dimensão tendeu a desvalorizar. O diploma, aprovado esta semana no Parlamento, prevê a distinção entre sanções correctivas e sancionatórias, agiliza os processos disciplinares e reforça a responsabilização dos pais. / Lusa, 11/11/2007

terça-feira, 7 de julho de 2009

A SINDROME DE BURNOUT

Por: Gisele Levy

Um efeito significativo do processo de mudança nas relações de trabalho pode ser evidenciado por meio da disseminação progressiva da Síndrome de Burnout entre os trabalhadores. O conjunto de sintomas denominado Burnout é considerado um tipo de stress ocupacional por tratar-se de uma Síndrome desencadeada pelas relações geradas no trabalho assistencial (NUNES SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002).


Embora não haja, na literatura, um consenso em relação à gênese do Burnout e do stress ocupacional, Abreu et al (2002) discutem o fato de o stress e o Burnout serem ocasionados a partir de situações relacionadas ao ambiente de trabalho. Hespanhol (2005), ao fazer uma abordagem sobre o Burnout e o stress ocupacional, afirma que o stress ocupacional em extremo pode provocar a Síndrome de Burnout. Alguns autores, porém, divergem dessa opinião. Novaes (2004) explica que existem diferenças entre o stress ocupacional e o Burnout, pois segundo ela, o Burnout se refere, exclusivamente, ao aspecto relacional, ao contato intenso com pessoas, caracterizando exclusivamente as profissões assistenciais.


Abreu et al (2002) concordam com esta opinião, pois, segundo os autores, Síndrome de Burnout não é o mesmo que stress ocupacional. Eles explicam que o Burnout é resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de stress. Desta forma, o stress pode ser visto apenas como um determinante para a Síndrome de Burnout.



Apesar das divergências, todos os autores são unânimes quanto ao fato de a Síndrome ser caracterizada como uma resposta ao stress laboral crônico e estar vinculada a sintomas negativos de ordem prática e emocional, envolvendo sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. (BORRITZ 2006; CARLOTTO & PALAZZO, 2005; GARCIA & BENEVIDES-PEREIRA, 2003; Abreu et al, 2002; REINHOLD, 2002; DWORKIN, 2001).



O conceito de Burnout se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de 70. Anteriormente, outros termos, como "alta exigência", "astenia neurocirculatória" e "fadiga industrial" também foram relacionados ao estado de esgotamento do trabalhador. Embora Christina Maslach e Herbert Freudenberger tenham sido apontados como pioneiros nos estudos sobre a Síndrome, Novaes (2004) citando Benevides-Pereira (2002), aponta que o termo foi adotado primeiramente por Brandley (1969), que teria utilizado o termo “staff Burnout”, referindo-se ao fenômeno psicológico que ocorre com trabalhadores assistenciais. Freudenberger (1974) aplicou o termo Burnout no sentido que é usado hoje (NOVAES, 2004; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).



Atualmente a definição mais aceita da Síndrome de Burnout está baseada na perspectiva sócio-psicológica de Maslach e colaboradores (1986). Os autores descrevem o Burnout como um stress laboral que conduz a um tratamento frio e indiferente com o cliente. Segundo essa leitura, variáveis sócio-ambientais são importantes para o desenvolvimento da Síndrome que é compreendida através de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal (MALAGRIS, 2002; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).



Exaustão emocional – situação em que os trabalhadores sentem que não podem dar mais de si mesmos, em nível afetivo. Percebem esgotada a energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato diário com os problemas. Despersonalização – desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do trabalho (usuário/clientes) – endurecimento afetivo, “coisificação” da relação. Falta de envolvimento pessoal no trabalho – tendência de uma “evolução negativa”, afetando a habilidade para a realização do trabalho e o atendimento, ou contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização. Além da vertente sócio-psicológica, a Síndrome de Burnout pode ser explicada por diferentes concepções: clínica, organizacional e sócio-histórica. Freudenberger (1974) defende uma perspectiva clínica, sob a qual o Burnout representa um estado de exaustão, resultado de um trabalho extenuante, corroborando para que o educador deixe de lado até mesmo suas necessidades. Cherniss (1980) adota um ponto de vista organizacional e explica que os sintomas que compõem a Síndrome são respostas a uma demanda de trabalho estressante, frustrante e monótono. E por fim, Sarason (1983) aponta uma perspectiva sócio-histórica, e explica que, quando as condições sociais não canalizam o interesse de uma pessoa para ajudar a outra, é difícil manter o comprometimento no trabalho e servir aos demais (FARENHOF & FARENHOF, 2002).


Considerando a evolução do de Burnout no trabalho docente sob a perspectiva psicossocial, Codo (1999) explica que as atividades assistenciais detêm uma particularidade estrutural, que é a necessidade do investimento de energia afetiva, para que se alcance os seus objetivos,ou seja, a promoção do bem-estar do outro. No caso da profissão docente, que se caracteriza pelo contato intenso com o alunado, o mesmo acontece. Assim, é necessário que o professor estabeleça um vínculo afetivo com o seu trabalho para que possa efetivar suas atividades. Caso contrário, a deterioração da relação de afeto devido ao desgaste diário na relação com o aluno, conduz o professor a um sentimento de exaustão emocional, caracterizado pelo total esgotamento da energia física e mental. Este estado contínuo de exaustão irá conduzir o profissional a um sentimento de baixa realização pessoal no trabalho, caracterizado pela ausência do vínculo de afeto, imprescindível a esse tipo de atividade. Na etapa da despersonalização, este vínculo é substituído por outro, racional, no qual o professor desenvolve atitudes negativas e críticas em relação ao aluno.



O trabalho passa, então, a ser considerado, apenas, pelo seu valor de troca, de “coisificação”. O aluno e todo o universo que compõe sua atividade profissional passam a ter um tratamento de objeto, descaracterizando totalmente a profissão. É esta perda do sentido do trabalho que se constitui num dos principais fatores responsáveis pelos inúmeros casos de absenteísmo e afastamento do professor. Como aponta MALAGRIS (2004, p.203) “... como o Burnout costuma surgir em áreas onde as pessoas têm mais aspirações, a frustração e a decepção são muito grandes, ocorrendo a perda do sentido no trabalho.”


Considerando a evolução da Síndrome de Burnout, conseqüência de um stress crônico e prolongado, a sensação de perda da energia e falta de disposição em relação ao trabalho, ocorrem de forma gradual, lenta e frequentemente imperceptível. Afetando de maneira significativa a relação entre o indivíduo e suas tarefas. Gimarães e Cardoso (1999) (apud Cornnell,1982) propõe um esquema de sintomas presentes na Síndrome de Burnout, que podem ser apresentados pelo indivíduo:
Sintomas físicos: são similares aos do stress ocupacional, são eles:


1. A fadiga, a sensação exaustão (cansaço crônico),


2. Indiferença ou frieza,


3. Sensação de baixo rendimento profissional,


4. Freqüentes dores de cabeça,


5. Distúrbios gastrintestinais,


6. Alterações do sono (insônia) e


7. Dificuldades respiratórias.



Os Sintomas de conduta: se revelam sob a forma de graves alterações no comportamento que usualmente afetam aos colegas, pacientes, familiares de pacientes e inclusive seus próprios familiares.



Os Sintomas psicológicos: podem aparecer mudanças de comportamento, tais como: trabalhar de forma mais intensa, sentimento de impotência frente a situações da rotina de trabalho, irritabilidade, falta de atenção, aumento do absenteísmo, sentimento de responsabilidade exagerado, atitude negativa, rigidez, baixo nível de entusiasmo, o consumo de álcool e drogas, como uma forma de minimizar os efeitos do cansaço e do esgotamento. Frente a estas questões, muitos pesquisadores vêm estudando o fenômeno do Burnout na Educação. Nunes Sobrinho et al (1988) desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de investigar a incidência da Síndrome de Burnout em 119 professores do ensino especial, de Rede Pública Municipal.Para a coleta de dados foi utilizado o (MBI) Inventário Maslach de Burnout. Um dos resultados da pesquisa indicou que os professores que apresentaram maior índice de Burnout eram os que atendiam deficientes auditivos e não haviam recebido qualquer treinamento para lidar com estes portadores de necessidades educativas especiais. De acordo com os resultados, os pesquisadores sugerem que a instalação do processo de stress ocupacional se deva, principalmente, à impossibilidade de o profissional solucionar as questões referentes ao seu posto de trabalho.Assim, a impossibilidade de solucionar situações no cotidiano escolar leva o professor a sofrer de Burnout.



Na pesquisa de Ogeda, et al (2002), Burnout em Professores: a Síndrome do Século XXI Foi realizada uma análise sobre a perspectiva organizacional da Síndrome de Burnout junto aos professores da Rede Municipal de Campo Largo/ Paraná. Participaram da pesquisa 353 professores, que responderam ao (MBI) Maslach Burnout Inventory (Maslach & Jackson, 1986) para avaliar o índice de Burnout. Os pesquisadores constataram que a maioria dos participantes possuía indícios que se aproximavam dos aspetos da Síndrome de Burnout, apresentando sintomas de exaustão emocional e física.



Outra investigação, intitulada Síndrome de Burnout e Fatores Associados: um estudo epidemiológico com professores (Carlotto & Palazzo, 2006), teve como objetivo identificar o índice da Síndrome de Burnout em professores com a análise das variáveis demográficas, laborais e os fatores contribuintes para o stress. A população foi composta por 217 professores de escolas particulares de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul/ Brasil. Para tanto, foram utilizados o Maslach Burnout Inventory (MBI), para medir o índice de Burnout e um inventário sócio-demográfico. Os resultados obtidos revelaram que o mau comportamento dos alunos, as expectativas dos seus familiares e a pouca participação do professor nas decisões institucionais foram os fatores de stress que apresentaram associação direta com as dimensões de Burnout. Quanto às dimensões “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e diminuição da “Realização pessoal”, que compõem o Burnout, foram revelados baixos índices.



O número das pesquisas empreendidas sobre a extensão dos efeitos da Síndrome de Burnout, na saúde dos professores, é muito significativo. O mesmo se repete nas investigações voltadas a outras áreas, como a medicina, psicologia, psiquiatria, ergonomia organizacional (SILVEIRA, et al, 2005; Oliveira. & Slavutzky,2005; SPIES, 2004; PEREIRA & JIMENEZ; 2003, VOLPATO, 2003).



Silveira et al (2005) investigaram a incidência da Síndrome de Burnout em 60 policiais civis que trabalham no município de Porto Alegre/RS. Para a coleta de dados foram criados dois grupos: um grupo de 35 policiais envolvidos em atividades externas e outro com 25 policiais envolvidos em atividades internas. O instrumento utilizado para a análise do índice de Burnout, foi o (MBI) Maslach Burnout Inventory. Ao final, a investigação revelou que não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de policiais no que se refere a cada um dos três fatores constituintes da Síndrome “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e “Realização pessoal”. A partir deste resultado, os autores sugerem que os sintomas vinculados à Síndrome não são determinados pelo tipo de atividade desempenhada, e alertam para a necessidade de estudos mais amplos que possam aprimorar as investigações sobre o Burnout e sua relação com o trabalho policial.



Oliveira & Slavutzky (2005), em A Síndrome de Burnout nos Cirurgiões-Dentistas de Porto Alegre, investigou-se o nível de Burnout, em uma amostra de 169 cirurgiões-dentistas de Porto Alegre/RS. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário auto-aplicativo, (MBI) Maslach Burnout Inventory. “Ao final da pesquisa foi constatado que os participantes apresentaram baixos índices nas dimensões: “Esgotamento emocional”, “Despersonalização” e “ Realização pessoal”, não sendo detectadas taxas altas de Burnout.



A pesquisa Burnout in occupational therapy: an analysis focused on the level of individual and organizacional consequences (GUTIÉRREZ et al, 2004) teve como objetivo a análise dos diferentes tipos de desgaste profissional, tomando como referência os fatores organizacionais e a Síndrome de Burnout. A amostra foi composta de 110 terapeutas ocupacionais da região autônoma de Madrid que atuavam em instituições que ofereciam serviço de terapia ocupacional. Destes, 89% pertenciam ao gênero feminino e 10%, ao gênero masculino. Os instrumentos para a coleta de dados foram: revisão bibliográfica, entrevistas e um inventário que analisa o índice de Burnout em profissionais de enfermagem (CDPE) Cuestionario de Desgaste Profesional de Enfermería (MORENO-JIMÉNEZ, et al, 2000). Os resultados da pesquisa revelaram associações altamente significativas entre a Síndrome de Burnout e conseqüências adversas relacionadas à saúde e ao campo interpessoal dos participantes. Além disto, indicou a relevância dos fatores relacionados com a sobrecarga do trabalho, as características da tarefa, a falta de amparo e com o reconhecimento por parte dos colegas.


Através da revisão bibliográfica, ficam evidentes os efeitos danosos da Síndrome de Burnout sobre a saúde do professor, colaborando para seu adoecimento e o impossibilitando de realizar plenamente suas tarefas. Neste contexto, é necessária uma reflexão sobre alguns dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da Síndrome.




Referências:

ABREU, et al. Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia, Brasília: UNISINOS. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Neurociências, 2002.

CODO, Wanderley (Coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.


CARLOTTO, M. Síndrome de Burnout e Gênero e o Docentes de Instituições Particulares de Ensino. Revista de Psicologia da UnC, n.1, vol. 1, p. 15-23. 2003.


CARLOTTO, S. M.; CAMARA, G. S. Análise Fatorial do Maslach Burnout Inventory (MBI) em uma amostra de professores de instituições particulares. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 3, p. 499-505, set./dez. 2004.


CARLOTTO M. S.; PALAZZO L. S. Síndrome de burnout e fatores associados: um estudo epidemiológico com professores Universidade Luterana do Brasil, Canoas, Brasil, 2006.


ESTEVE, J. Manuel, O Mal-Estar Docente; A sala de aula e a saúde dos professores. Bauru, SP: EDUSC, 1999.


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HESPANHOL, A. Burnout e Stress Ocupacional. Revista Portuguesa de Psicossomática. V.7, n. 1 e 2, jan./dez. 2005.


LEVY, Gisele Cristine T. M. Analise do índice de Burnout em professores da rede pública de ensino. Dissertação Mestrado em Educação – UERJ /PROPED. Rio de Janeiro, 2006


LIMA, Flávia Fatores contribuintes para o afastamento dos professores dos seus postos de trabalho, atuantes em escolas públicas municipais localizadas na região sudeste. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, 2004.


LIPP, M. (Org.) O Stress do Professor. Campinas, São Paulo, Ed. Papirus, 2002.


NUNES SOBRINHO, Francisco de Paula; NASSARALLA, Iara (Orgs.). Pedagogia Institucional: fatores humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Zit Editores, 2004.


NUNES SOBRINHO et al. Humanização do posto de trabalho docente: uma alternativa ergonômica na inclusão educacional. In: NUNES SOBRINHO, Francisco de paula (ORG.) . Inclusão Educacional: pesquisa e interfaces. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2003.


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PEREIRA, L. P.; FERREIRA, L. P. ANAIS II Congresso Brasileiro de Stress teoria e Pesquisa São Paulo/ SP 2005.


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